terça-feira, 21 de setembro de 2010

Semana da Mobilidade



Acontece esta semana em algumas cidades europeias a European Mobility Week, uma campanha que busca conscientizar cidadãos europeus a utilizarem modos mais sustentáveis de transporte, além de encorajar os governos a participarem promovendo investimentos necessários à melhorias nestes modos de deslocamento. Do dia 16 ao dia 22 de setembro, os cidadãos europeus poderão participar deste movimento de mobilidade sustentável.



Esta campanha iniciou-se no ano de 2002, na carona de uma outra campanha que vinha dando certo: o "In town without my car!" (Na cidade sem meu carro!). Esta campanha teve início no ano 2000 com participação de muitas cidades mostrando alternativas ao uso do automóvel por um dia. Em 2002, abraçado por alguns governos, esta campanha passou a utilizar esta semana de setembro para lançar alternativas buscando melhor qualidade de vida, reduzindo o uso do automóvel e promovendo o uso de modos mais sustentáveis. Segundo os próprios formuladores da campanha, a Semana da Mobilidade é a oportunidade única para que as cidades que participam possam testar políticas de transporte urbano e apresenta-los para os cidadãos



No Brasil ainda não temos uma campanha deste porte, com participação de toda a sociedade civil e das prefeituras. No dia 22 de setembro, acontece o Car free day (Dia mundial sem carro), algumas prefeituras, como a do Rio de Janeiro, estão se mobilizando para que este dia não passe em branco. O centro do Rio terá mais de 2 mil vagas de estacionamento proibidos neste dia. Outra medida foi reduzir a velocidade em algumas vias para no máximo 30km/h, permitindo assim o tráfego de bicicletas com o mínimo de segurança.


É pouco, diga-se de passagem, mas já é algo. Eu lembro vagamente do ano passado, no dia 22 de setembro, dia mundial sem carro, quando acordei cedo e estava assistindo o jornal local. Havia uma especialista sendo entrevistada, se não me engano era a professora doutora Ilce Marília Dantas, falando à respeito da necessidade de conscientização em relação ao uso do carro na nossa capital. Fiquei pensando se naquela hora, às 6:50 da manhã, alguém iria deixar o carro em casa e sair de buzão cheio pro trabalho. Lembro da repórter, que ainda filmava a Avenida Bonocô, entusiasmada com o trânsito livre na região (óbvio, era 6:50 da manhã). A repórter dizia que era muito importante participar, e que parecia que "as pessoas estavam aderindo ao movimento". Não lembro como estava o trânsito na cidade naquele dia, mas tenho absoluta certeza que poucos foram os que aderiram, afinal uma campanha deste porte e desta importância não pode ser divulgada na data, às 6:50 da manhã. É preciso primeiramente conscientizar as nossas autoridades, que parecem não estar ligando muito pra isso. O trânsito em Salvador só piora, a qualidade de vida deteriora, e nos poucos momentos onde há a oportunidade de fazermos algo diferente, deixam pra lá, não é importante. Somos bombardeados com informações sobre o impacto do uso do automóvel, que cresce a cada dia, mas o governo trata é de incentivar seu uso. A saúde é afetada de todas as formas: poluição, acidentes de trânsito e o stress a que estamos sujeitos nos congestionamentos e com o sistema de transporte público muito deficiente. Enquanto o mundo todo tende para o lado da qualidade de vida nos grandes centros urbanos, nós vamos felizes para o outro lado...

Seguem estes dois vídeos. O primeiro mostra como será o dia 22 de setembro no município do Rio de Janeiro, e o outro mostra Secretários de Estado em Portugal tomando iniciativas para a Semana da Mobilidade. Vale a pena ver, não custa nada.





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terça-feira, 14 de setembro de 2010

O que é o que é: congestionamento?

Olá pessoas, sejam bem vind@s novamente no meu blog! Demorei mas voltei, e antes tarde do que tarde demais. Bom, neste novo post eu to inspirado, se segure que vou começar a esmiuçar um dos problemas do transporte urbano e que se tornou companheiro diário de todos os habitantes da Soterópolis: o congestionamento urbano. Pra quem não sabe o que é esmiuçar, essa palavra pode parecer estranha mas ela existe, e significa "examinar minuciosamente". Se você não sabe o que significa minuciosamente, desista.
 
 
 
 
Bom, voltando ao tema, congestionamentos. Quem pode me dizer aí o que é o congestionamento? Bom, explicar o que é o congestionamento não é tão difícil, basta você me dizer que o congestionamento é uma condição que surge do aumento do tráfego em uma via, ou seja, é um monte de carro enfileirado - e muitas vezes buzinando no seu juízo. Não está errado não colega, mas certamente o congestionamento não se resume a isso. A maioria das pessoas tem sua própria definição do que é o congestionamento. Cada um vive o congestionamento de um jeito. Se você parar ali na Paralela, às 18:30, e sair perguntando aos motoristas e passageiros dos ônibus parados o que é o congestionamento, você terá uma gama de definições do tipo: 

- Congestionamento é um monte de gente querendo passar por uma p$or@!& de uma rua que já não suporta mais essa quantidade de carro...

- Congestionamento é o que me faz chegar em casa todo dia 8 da noite meu caro...

- Congestionamento é esse povo 'maléducado' aí na frente véi, quer todo mundo passar de vez! Tá vendo que num dá?!

- Rapaaaaiz, esse congestionamento é uma m%#r!#@ viu! Me estressa!

- Desculpa, mas congestionamento não é a mesma coisa que engarrafamento?

- Congestionamento é imobilidade...ficar aqui parado um tempão pra chegar em casa...daqui a pouco começa Jo Soares e eu ainda to aqui...  

- Rapaz, esse congestionamento é uma falta de respeito! Pagamos caro por esse transporte ridículo, e ainda temos que ficar horas aqui em pé pra chegar em casa! Congestionamento é isso! Cadê os político essa hora? Tão tudo nos carro!

- Ô seu moço, congestionamento é um monte de carro na rua! Nunca vi tanto carro!

Bom, percebe-se que todo mundo sabe instintivamente o que é o congestionamento, a maioria das pessoas tem sua própria definição. Isso implica dizer que não existe uma definição universal para o problema. Esta carência de definição talvez dificulte a implementação de certas medidas, uma vez que precisa estar claro o que se deseja solucionar. De uma forma mais geral, eu posso dizer que o congestionamento é uma deficiência do sistema de transportes em alocar as necessidades de deslocamento. Entenda que sistema de transportes não é o sistema de transporte público, mas sim todo o sistema, que integra todos os modais (carro, ônibus, trem, bicicleta, metrôelevadores, inclinados e o famoso "a pé" que por aqui nem é tratado como um modo de deslocamento). Uma outra abordagem utilizada para definir o congestionamento é trata-lo como um simples problema de engenharia hidráulica. Nesta analogia, maiores canos permitem uma maior quantidade de fluidos - aumentando a capacidade das vias, permite-se uma maior quantidade de veículos. O equívoco desta visão é que ela ignora a principal variável do problema: as pessoas. Diferentemente dos fluidos, as pessoas fazem escolhas, e as vias, diferentemente dos canos, cumprem diferentes funções dentro das cidades. Sendo assim, é baseado nesta abordagem é que se obtêm a solução corriqueira do problema: ampliação da infraestrutura viária (leia-se alargar avenidas, construir viadutos, etc.). 
 



No meio acadêmico não há mais espaço para esta medida como solução para os congestionamentos urbanos. Para alguns autores, a eficácia deste modelo é limitada não só pelo alto custo mas também pelo fenômeno da demanda latente e demanda induzida. Calma que eu vou explicar o que é isso aí. A demanda induzida é aquela que de fato utiliza o bem. Entendeu? Bom, mais simples: demanda induzida é você e toda aquela galera que decide passar pela Paralela às 18:00. Essa é a demanda induzida. - E a 'demanda latente' seu Valera? A demanda latente são aqueles que gostariam de utilizar o bem, mas não utilizam. Demanda latente é você quando vê que tá tudo engarrafado, olha e pensa: "vou deixar pra ir mais tarde..." ou então prefire dar a volta na cidade do que passar por ali agora. Demanda latente é o que também podemos chamar de demanda potencial. Ela tá lá, doida pra utilizar a via, mas não usa porque acha que o custo de enfrentar o congestionamento será maior do que esperar pra ir mais tarde ou mudar a rota. Basta um bom motivo pra você passar a utilizar esta via. A Rótula do Abacaxi, por exemplo, é o que chamamos de gargalo urbano em Salvador. Trafegar ali era sinônimo de dor de cabeça (e continua sendo, não se engane). Muita gente evitava trafegar neste trecho em certos horários, evitando ficar parado no engarrafamento. Como já foi relatado no post anterior, a Rótula hoje está em transformação, a pleno vapor, com pelo menos uns três novos viadutos para serem inaugurados, o que melhorará positivamente o trânsito na região. A pergunta é: até quando vai durar esta melhoria? Vamos pensar um pouco...demanda latente e demanda induzida...quem usava a Rótula anteriormente, continuará usando, isso é óbvio. Aqueles que gostariam de usar, mas não usavam, serão incentivados a usar, afinal, agora o trânsito na região vai melhorar. No longo prazo, a demanda induzida vai incorporar toda a demanda latente anterior. Trocando em miúdos, agora todo mundo que já usava e quem também queria usar vai passar a usar a Rótula. Com o tempo, aquela melhoria inicial desaparecerá. Quem não lembra dos alargamentos da Avenida Paralela? Melhorava num instante e pouco tempo depois ela tornava-se novamente insuportável. É o fenômeno da demanda latente.
 
 
 

Pronto, agora você pode sair e dizer que aprendeu alguma coisa hoje: aprendeu que congestionamento é um saco e aprendeu dois conceitos que você talvez nunca mais use na vida: demanda latente e demanda induzida. Isso aí tá mais batido do que tabuada: não é construindo viadutos e alargando pistas que se resolve o problema dos congestionamentos. O mundo todo sabe disso. Mas parece que há interesses envolvidos por trás disso tudo. Interesses estes que não estou apto a debater. Fiquem à vontade.

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