Em Salvador, cerca de 25% dos habitantes possuem carro. Temos hoje circulando nas ruas da cidade algo em torno de 700 mil veículos. A frota de veículos em Salvador cresce a taxas impressionantes e alarmantes, em média 6% ao ano de acordo com dados do Detran. Hoje o número de carros na cidade é o DOBRO de 10 anos atrás. O resultado disso não poderia ser o que vemos diariamente: congestionamentos surreais, motoristas despreparados, desrespeito às leis, pessoas estressadas, acidentes, brigas de trânsito, não necessariamente nesta ordem.
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| Avenida Antonio Carlos Magalhães em uma tarde qualquer |
Alguns estudiosos da Economia Urbana costumam dizer que o trânsito de uma metrópole reflete o próprio aquecimento da economia local, funcionando como uma espécie de termômetro. Um trânsito caótico, para estes autores, é sinonimo de prosperidade econômica, um sinal do aumento da renda desta região. Bom, não vou discutir isso, mas to pouco me fud fedendo pra aquecimento da economia quando pego um congestionamento bizarro às 15hs em plena quarta-feira. Pra mim prosperidade econômica não é congestionamento em pleno horário comercial, desenvolvimento pra mim é um trânsito gentil, motoristas educados, que respeitam as leis, que dirigem para si e para os outros, pedestres conscientes, motociclistas responsáveis e um transporte público de qualidade. Na minha concepção de metrópole desenvolvida, estes são os pré-requisitos, e Salvador, assim como 97,34% das cidades brasileiras, estão longe do meu utópico desejo.
- O que fazer então, Sir Lucas Morais Santos? Proibir os seres humanos que trabalham o ano inteiro de realizarem seus sonhos? Não, não é isso. Mas cada sacana desse que compra um carro e decide sair com ele, impõe um custo à todos. Nada mais justo que paguem este custo, e não apenas arquem sua manutenção e sua gasosa. Cada minuto perdido no congestionamento é custo, provocado por todos que estão naquele inferno, inclusive por mim. Ou incentiva o transporte público, dando alguma qualidade e aumentando sua oferta, ou desincentiva o transporte individual, aumentando o seu custo, diminuindo a sua demanda. O certo mesmo é fazer os dois. Tudo bem, isso não é simples.
Uma alternativa de controle da demanda está sendo utilizada na China. Os governos de algumas cidades estão limitando o número de licenças para emplacamento de veículos, afim de reduzir pelo menos o crescimento da frota. Assim, o leilão de licenças é a saída pra quem quer emplacar o carro. Quem paga mais, leva. O lance mínimo, no mês de maio, foi 12 mil reais. Isto mesmo mané, 12 mil reais. O lance vencedor é, em média, 40% acima deste preço. Isso significa que emplacar seu carro na China irá lhe custar aproximadamente 17 mil reais. Em reais, é quase o preço de um bom carro ZERO lá.
Desincentivando o deslocamento individual, o governo chinês tem trabalhado para melhorar a oferta de transporte público, ampliando linhas de metrô, reduzindo tarifas de taxi, investindo em inteligência de tráfego, ampliando ciclovias. Aumentando a oferta de um lado, e reduzindo a demanda do outro. Isso sim é política coordenada.
Quando se fala em políticas de mobilidade aqui, é só BRT x VLT., como se só isso fosse resolver o problema de deslocamento em Salvador. Enquanto a discussão continua sem solução, a situação já caótica do nosso trânsito só piora. Comprar carro aqui não é barato não, mantê-lo é mais caro ainda. Porém, o crédito para comprar carro em 60x sem entrada está aí na praça; licenciar e emplacar deve lhe custar em média mil reais. Pegar um taxi vai lhe custar o rim esquerdo, moto-taxistas são na maioria despreparados, ciclovias não existem, não há investimentos. Resta ao soteropolitano comprar um carro e piorar ainda mais o impiorável (afemaria), ou ficar horas em um ponto de ônibus geralmente inseguro e pegar um buzão lotado, desconfortável e também inseguro.
Cavalheiro,
ResponderExcluirCheguei a seu blog através das paginas da caríssima Sra. Aragón que sugeriu a leitura de sua postagem.
Fazendo uma singela análise de seu texto, preciso dizer-lhe que concordo em gênero e grau, porém não em número. Nossa frota automotiva é na verdade pelo menos 12% maior que a declarada em seu texto, porque nesse número que apresentou não estão inseridos os veículos oficiais que não entram nessas estatísticas - isso é regra mundial.
Sou vêementemente a favor da restrição viária automotiva, de todo e qualquer tarifamento de espaços para alocação, estacionamento, exposição e ou qualquer outra ação ou inação pertinente ao universo automotor privado. Ha muito debate-se sobre a cobrança de estacionamentos em Shopping´s Center e os únicos estados nordestinos que não cobram (explicitamente) essa tarifa, são o da Bahia e Sergipe; TODOS os outros Estados da Federação cobram. Já ví inumeras vezes, em SP, no RJ e em BH, baianos que aqui fazem o maior estardalhaço contra essa cobrança, lá, pagarem e "se acharem" o máximo e ainda dizerem que é uma atitude civilizada!!(rs)
Pois muito bem, existe um acordão do STF que pôs por terra a petição municipal soteropolitana pela não cobrança de estacionamentos em Shopping´s; acontece que um direito sobre um bem privado, é uma iniciativa do particular sobre seu respectivo patrimônio e como tal prevalece o interesse próprio; Porém, em Salvador, os Shopping´s não cobram (explicitamente) o estacionamento dos usuários porque têm a consciência que inevitavelmente iriam "surgir" ilhas de estacionamento na via pública, tornando a vida dos clientes e usuários dos Shopping´s um caos, vez que a prefeitura e a autarquia (tsc,tsc,tsc) incubida de tal tarefa é a piada do dia até no emisfério sul - não funciona - que dirá multar maus usuários das vias públicas que estacionam de forma desafiadora às leis da física! Sugestão: Prepostos autarquicos de bloquinho de notificação infracionária em mãos e cada um com uma maquininha fotográfica - fotografaria o veículo estacionado de forma irregular, registrando assim visivelmente o ato infracionário e deixaria a noticia no parabrisa do auto (ou preferencialmente entregando em mãos do respectivo condutor), ficando ciente que receberá em seu domicílio a cobrança pelo municipio, por lesar os cofres públicos danificando o mobiliário da Cidade.
Eu e família nos propusemos a fazer registros com a câmera do celular, de estacionamentos irregulares, dando preferência pelas bizarrices - em uma semana tinhamos aproximadamente trezentas imagens que qualquer pessoa seria capaz de ficar estupefacta - assutada - com as aberrações que são cometidas por condutores que dizem serem habilitados.
Portanto cavalheiro, até mesmo para alimentar os cofres públicos vistas a possibilidade da implantação de alternativas de transporte público de massa, com alguma qualidade, acho que ao proprietário automotivo DEVE ser imposto sobretaxa pela utilização de automotores. Não sou hipócrita, tenho cinco automóveis (dois meus, o da esposa, e filhos), portanto sabedor que não será uma mudança simples como tão somente fechar a porta de uma geladeira, mas, acredito, piamente que podemos fazer mudanças reais e mudanças que influenciem positivamente nossas vida, mas é preciso que tenhamos HOMENS de coragem e brio para empreender mudanças dessa envergadura.
Legal seu blog. Continue. De repente o Senhor poderá ser o nosso futuro gestor do tráfego urbano !!
Boa sorte!!
Capitão.
Obrigado pelas críticas meu caro. Enquanto o próprio governo não parar o incentivo ao transporte individual, é pouco provável que nossa situação venha a melhorar. Muita gente reclama dos congestionamentos e acredita que a solução para o problema é infra-estrutura, alargando vias, contruindo viadutos, etc. Não. Isso só ameniza a situação no curto prazo pois incentiva ainda mais o transporte individual, além de ser a escolha mais cara. O problema deve ser solucionado não só ampliando oferta viária mas também CONTROLANDO a demanda (políticas - policy) pelo uso das vias através dos PREÇOS (implícitos ou explícitos). Porém, tudo isso só vai funcionar se o próprio transporte público puder abserver esta demanda. Resumindo, vai dar trabalho.
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